Araraquara e Torre Vedras: parceria que derruba muros e constrói pontes

Araraquara e Torre Vedras, em Portugal, mantêm em atividade, desde 2018, um termo de cooperação que estabelece parceria econômica e cultural, assim como a troca de experiências nas políticas públicas.

Uma das experiências mais recentes foi realizada por meio da Secretaria Municipal de Educação, com o projeto “Derrubar Muros, construir pontes”, promovido pela Fábrica de Histórias – Casa Jaime Umbelino, de Torres Vedras, com a atuação dos alunos do Centro de Educação (CE) Piaquara “Lectícia Vitta Filpi”.

Este projeto de intercâmbio cultural entre municípios e continentes convidou escolas de ensino fundamental originários de diferentes municípios e continentes para produzirem curtas de animação, como forma de estabelecerem conexões e diálogos, tecerem fios de diversas procedências, entrançarem e alcançarem caminhos, estabelecendo laços que permitam expandir as experiências e aprender uns com os outros.

O CE Piaquara “Lectícia Vitta Filpi” representou a rede municipal de Araraquara com a coprodução do curta “A união derruba muros”. A produção do vídeo ocorreu de forma intercontinental e em diálogo contínuo entre os envolvidos, portugueses e brasileiros. Os estudantes de 9 e 10 anos (4º e 5º anos do Ensino Fundamental), coordenados pelas professoras Márcia Maria Bernal Perches Pierri e Maria Isabel Faglioni Barbugli, produziram o roteiro e as ilustrações a partir do tema proposto. O material produzido – desenvolvido entre setembro de 2019 e março de 2020 – foi enviado a Torres Vedras e foi transformado em uma animação. 

Para realização do trabalho, a Secretaria Municipal de Educação promoveu formações docentes em audiovisual e cinema de animação. O projeto mobilizou diferentes competências e linguagens como a literatura, a pintura, a ilustração, a música, o teatro, o cinema de animação, as tecnologias de informação e comunicação. 

As professoras Márcia e Maria Isabel explicam que o tema “Muros” propõe refletir sobre os objetos e ideias que separam “uns” dos “outros”, quer seja por fronteiras, por religiões, por etnias e mesmo aqueles “muros” que trazemos dentro de nós. “Mas, para além dos muros, o tema provoca a refletir sobre as diversas formas de superação das distâncias e diferenças por meio da metáfora das pontes”, apontam.

A professora de leitura Maria Isabel debateu diversos assuntos com os alunos, focando o significado de “derrubar muros e construir pontes”. “Trabalhamos o preconceito, o pré-julgamento e também a empatia, de se colocar no lugar do outro, para rompermos mesmo com esses muros”, conta. “A partir de diversos assuntos, da pesquisa feita com leitura, os alunos começaram a construir os personagens e a história. Assim, estamos formamos leitores, alimentando a imaginação e capacitando essas crianças para irem além.”

Produção – A professora Márcia conta que a história do curta foi totalmente criada pelos alunos. “Deixamos os alunos livres para criarem essa história, que é uma criação livre e bem fantasiosa, em 13 cenas. Os alunos criaram muitos personagens e uma história grande”.

Aproximadamente 15 crianças participaram da produção e, parte delas, juntamente com uma equipe de professores, teve a oportunidade de participar de um curso de cinema de animação, promovido pela Secretaria Municipal de Educação, ministrado pela Rocambole Produções, de São Carlos, o que motivou bastante o grupo.

Márcia lembra que, como o calendário escolar de Portugal difere do brasileiro, o tempo para execução do projeto foi apertado. “Mas deu tudo certo e as crianças, depois de passarem pelo curso de animação com a Rocambole, ficaram ainda mais empolgadas e conscientes do trabalho que é fazer um filme, ainda mais animado! O curso foi importante para situar toda a equipe sobre o trabalho e a duração de uma produção animada”. 

Personagens, características e papel de cada um deles, assim como as falas de cada um, tudo isso foi criado pelos alunos, sem interferência das professoras. De acordo com Maria Isabel, a sinopse do curta apresenta duas cidades: uma em que os robôs são os trabalhadores e os humanos descansam e outra onde há harmonia e cooperação entre o trabalho dos humanos e das máquinas. Porém um dia, a cidade comandada pelos robôs acorda em caos e, então, os humanos da cidade dos robôs irão entrar em contato com a cidade harmoniosa. O que será que vai acontecer?

Márcia conta que todas as crianças do projeto gostaram muito de fazê-lo e se sentiram valorizadas. “Nós, professores da Educação Integral, temos possibilidade de ser muito amigo dos alunos., E essa relação de amizade com as crianças é muito boa, nos motiva a acreditar e persistir na Educação”.

Apesar do orgulho do trabalho pronto e de estar disponibilizado na rede mundial, os alunos e as professoras estão ansiosos para o retorno às aulas, para poderem enfim, juntos, assistirem à produção. “Quando uma criança faz algo legal, ela empolga o outro. Por isso, queremos reunir os alunos da escola para mostrar o que foi criado dentro da nossa escola, para que todos possam saber que são capazes”, defende a professora Márcia.

“Este é um projeto muito gratificante, pois nada como vencer fronteiras: tivemos muito trabalho, fomos muito dedicados e, agora, o nosso curta – produzido pelas crianças da nossa escola – está na rede mundial e pode ser apreciado por qualquer pessoa. Chegar neste produto final e mostrar para toda a escola essa conquista, é um incentivo muito grande para todos: para as crianças e nós adultos,” defende Maria Isabel. “Estamos criando leitores que produzem histórias, e bons leitores e críticos. Vem pessoas muito bacanas por aí”, aposta a professora.

A animação desenvolvida pelo CE Piaquara está disponível no Facebook da Prefeitura de Araraquara (a postagem foi realizada no último sábado, 6 de maio – data do lançamento dos filmes em Portugal). Todos podem ter acesso à produção.

Vale a pena – A diretora do CE Piaquara, Sônia Regina de Moura Santos, agradece a dedicação das professoras e alunos participantes do projeto, assim como o apoio que recebeu de toda a equipe do CE durante a produção do curta. “Produzir um filme é muito trabalhoso, é um parto! Mas os alunos foram tomados pelo prazer: todo mundo muito animado com essa produção e empolgado pelo fato de haver um vínculo com a cidade de Portugal. Mas realmente foi muito trabalhoso: a gente vê as coisas prontas e não tem ideia do trabalho por trás disso. Eu só posso dizer que: a escola vale a pena, o aluno vale a pena, o educador vale e a pena! Vamos continuar na luta e com muita fé”.

“É importante destacar que a participação do Centro de Educação Piaquara Lecticia Vitta Filpi neste projeto tem um significado especial para educação municipal”, aponta a secretária municipal da Educação, Clélia Mara Santos. “Em 2019, a escola completou 25 de sua inauguração, tendo sido a primeira unidade escolar na implantação do Programa de Educação Complementar, o qual deu origem e estabeleceu diretrizes para o Programa de Educação Integral do município”, argumentou. A secretária destaca também que a Educação Integral vem trilhando caminhos no Cinema Escolar desde 2018, com o objetivo de inserir novas linguagens no currículo, para isso, promoveu formações em Cinema e realizou duas mostras de audiovisual, com exibição de produções escolares.

A secretária aponta que o projeto “Derrubar muros, construir pontes” é um dos muitos projetos que resultam da parceria da Prefeitura Municipal de Araraquara com Torres Vedras e é, por si mesmo, uma ação no sentido de construir pontes entre crianças, educadores e artistas participantes, promovendo a experiência e o diálogo de culturas e da produção cultural escolar com amplitude além-mar.

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